Miami além de South Beach
A badalação na praia mais famosa de Miami é necessária, mas a aura artística da cidade surpreende cada vez mais quem visita a cidade.
"A essência de Miami sempre esteve ligada ao dinheiro”, confidencia com alguma naturalidade o gerente de uma cadeia de hotéis. De fato, “ter” e “mostrar” são verbos recorrentes na cidade. Pela ampla janela avistávamos a marina de Coconut Grove, na qual iates e veleiros milimetricamente ancorados só faziam confirmar a tese. Avenidas povoadas por Ferraris e Maseratis, onde sapatos Louboutin e bolsas Louis Vuitton parecem ter vida própria. Contudo, para olhos treinados, Miami pode ir muito além do óbvio.
A capital latina dos Estados Unidos vibra de um jeito diferente do resto do país e fala língua própria. Só um desavisado se espantaria com a frequência com que se escuta espanhol. Entre os cerca de 450 mil habitantes, muitos colombianos, argentinos e inúmeros cubanos fizeram da cidade seu lar e ajudaram a desenvolver uma faceta ao mesmo tempo plural e única.
Miami é quente, em vários sentidos.
Calor o ano todo, principalmente entre junho e agosto, é refúgio invernal de norte- americanos. Aqui não neva, e a vida se faz ao ar livre, a não ser quando se vai ao shopping ou a algum dos disputados outlets nos arredores. Por aqui o estilo é “despojado-mas-preocupado”, e, quanto mais perto do mar, menos roupa se veste.
Principal praia e região mais icônica, South Miami Beach ainda é uma das definições mais românticas da cidade. À beira-mar, por toda a Ocean Drive, turistas disputam mesas de bares e restaurantes que colorem o horizonte com prédios baixinhos em estilo art déco da década de 1920. Para comer, beber e dançar, há opções a perder de vista.
Vasta variedade. Em pouco tempo descobre-se que Coral Gables e Key Biscayne, por exemplo, não são apenas nomes de condomínios ou empreendimentos imobiliários de cidades brasileiras, mas bairros de uma cidade plana e extensa. Miami se espalha por 143 quilômetros quadrados (um pouco menos da área de Aracaju) – não estar de carro pode ser uma chatice para quem pretende visitar muitos pontos em um só dia. As praias de maior destaque e mais bacanas para banho, South e North Beach e Bal Harbour, ficam na Ilha de Miami Beach, ligada ao continente por cinco pontes principais.
Se antes muita coisa se restringia à região litorânea, hoje boa parte da atual vida fervilhante de Miami está do lado do centro, o chamado Downtown. Uma caminhada por ali revela os ares cosmopolitas da cidade, com arranha-céus de respeito e uma intensa vida mercantil, bem diferente do jeitão mais descompromissado de Miami Beach.
Outra vantagem do lado continental da ponte é usar o Metromover, mistura gratuita (sim!) de ônibus e monotrilho que ajuda a zanzar pelo centro e bairros étnicos, como Little Havana e Little Haiti – em alta entre os turistas. Com 40 quilômetros de extensão, o Metrorail (US$ 2,25 ) se revela uma alternativa econômica para ir e voltar do aeroporto e de bairros badalados como Vizcaya e Coconut Grove. Se tiver tempo, paciência e dinheiro extra, serviços como o tradicional ônibus double deque vermelho (desde US$ 45, válido por 48 horas) permitem descer e subir em pontos variados de Downtown e Miami Beach.
Embora nunca tenha deixado de ser uma meca das compras para brasileiros, Miami ampliou seu repertório de atrativos. As artes são hoje o principal eixo dessa mudança e há algumas explicações para isso. A expansão do fenômeno Romero Britto. A Art Basel, uma das maiores exibições de arte do mundo, que este ano chega à 14.ª edição. O crescimento de acervos de museus festejados, como o Pérez e o Wolfsonian. E, nas ruas, a identidade dos dos grafites que ressuscitaram o bairro de Wynwood e a vivacidade das cores que deu novo fôlego à cidade. Sem contar a arquitetura vanguardista pelas lojas que pululam no Design District. Indícios não faltam de que a essência de Miami está mudando – e para melhor.
Na teoria, Bal Harbour é parte da mesma faixa contínua de areia de Miami Beach, 15 minutos ao norte da praia badalada. Na prática, o distrito tem características próprias. A paisagem, tomada por grandes edifícios envidraçados residenciais e hoteleiros à beira-mar, tem um quê de urbana. Ainda assim, Bal Harbour talvez seja o lugar que melhor exibe a natureza existente em Miami, com pelicanos, golfinhos e manatees (peixes-boi) pela Via Costal Waterway, canal que liga o mar à Biscayne Bay.
De quebra, ainda é um polo de luxo e exclusividade. Símbolo maior desse glamour, o Bal Harbour Shops reúne 100 das mais festejadas (e caras) grifes do mundo. Muito procurado por famílias e gente que quer fugir do burburinho de South Beach, abriga hotéis de alto luxo, como o tradicional Sea View Hotel (diárias a US$ 195) e o impecável Ritz Carlton (US$ 450), onde nos hospedamos. Os principais hotéis emprestam bicicletas, o melhor jeito de descobrir Bal Harbour.
Amplo e com um enorme gramado, o Haulover Park abriga uma marina de onde saem excursões de pesca pelos canais. Empresas como a Kelley cobram cerca de US$ 45 por pessoa em um tour de 4 horas. Navegando a 3km da costa já foi possível fisgar um dourado de 2 quilos e 50 centímetros; em alto-mar avistei um marlim quase fisgado por um barco vizinho – e não é história de pescador.
Fonte: wwwviagem.estadao.com.br
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